Uma das frutas mais saborosas da Mata Atlântica é assunto de um livro que será lançado amanhã, 15 de março, na Assembleia Legislativa de Porto Alegre. A obra ‘Butiá para Todos os Gostos’ é um trabalho da Embrapa Clima Temperado, que conta com a colaboração de integrantes do Movimento Slow Food Brasil, assim como chefs, cozinheiros e pessoas de comunidades onde o butiá faz parte da flora.
Com o objetivo de dar visibilidade ao fruto para conscientizar para a sua conservação, o livro traz mais de 100 receitas, entre tradicionais e novas criações culinárias, que mostram seu potencial gastronômico. Considerado pelo Ministério do Meio Ambiente como uma das 20 plantas do futuro por sua importância para o ecossistema onde ocorre, o butiá corre risco de extinção devido à especulação imobiliária e manejo errôneo.
Rota dos Butiazais
Muitos não sabem, mas o butiá não é exclusivo do Brasil. Suas palmeiras são encontradas também no Uruguai e na Argentina. As localidades dos três países onde os butiazais estão presentes formam a Rota dos Butiazais, que une pessoas ligadas ao fruto para a oferta de oficinas, capacitação e reuniões com autoridades.
Em Santa Catarina, a maior quantidade de butiazeiros está no sul do estado, principalmente nos municípios de Garopaba, Imbituba, Imaruí, Laguna e Pescaria Brava. Um dos responsáveis pela Fortaleza do Butiá do Litoral Catarinense, que é uma Fortaleza Slow Food, é o agricultor e guardião de sementes Antônio Augusto Mendes dos Santos.
Há quase 10 anos envolvido com a pesquisa e comercialização do fruto, Antônio diz que um dos desejos dos envolvidos na produção do livro é ver o uso do butiá na merenda escolar, o que aumentaria a demanda pela fruta e sua polpa. “O butiá tá acabando, e a gente precisa cuidar pra não acabar”, fala.
A cidade de Laguna já deu o primeiro passo. Desde 2005 uma lei proíbe o corte e queimada sob pena de multa, já que a espécie foi instituída como árvore representativa do município. Mas é de extrema importância que todos os integrates da Rota dos Butiazais instaurem políticas públicas que valorizem o uso de suas frutas nativas e capacitem profissionais sobre o manejo adequado delas.
Além da gastronomia
Na Rota, são encontrados butiazeiros de 250 anos, ou de até mesmo 30 metros de altura. A diversidade do fruto de acordo com sua variedade também resulta em uma diferente utilização culinária. Mas além da gastronomia, o butiá pode servir para outros fins. Sua palha, por exemplo, é utilizada em artesanato, e já fez até parte da história de indústrias de Jaguaruna e Imbituba, quando era usada no enchimento de colchões nas décadas de 1950 e 1960.
Por ser, além de tudo, um componente cultural do estado catarinense, Antônio defende que o livro só ganhou vida devido ao trabalho prolongado de pesquisa da Embrapa que, por meio de editora própria, fez o projeto de 2016 virar realidade. “Agricultura e extrativismo só andam com a pesquisa junto”.
A extração do butiá é uma atividade basicamente extrativista que somente em Santa Catarina envolve uma média de 80 famílias. Elas dividem seu tempo entre a coleta do butiá durante a safra, que se estende de dezembro a março, e outras fontes de renda.