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Numa praça portuguesa, uma cozinheira-artista

outubro 20, 2024
em Gastronomia

É uma tarde de outono e é meu primeiro dia na cidade de Coimbra. Vim para morar. Sinto fome. Tudo é lindo, mas a verdade é que eu só consigo pensar “onde um vegano pode comer por aqui?”. O passeio fica pra depois.

Foram mais de dez horas de vôo entre Brasil e Portugal e as companhias aéreas deveriam mas nem sempre estão preparadas para alimentações fora do padrão. Entro na Praça do Comércio, um dos pontos históricos mais visitados de Coimbra mas, já sabes, neste momento eu só quero ver cardápios.

Uma placa: Brás vegetariano.

Brás aqui significa o Bacalhau à Brás, uma das receitas portuguesas mais tradicionais. É uma portinha com algumas mesinhas de madeira na rua e outras mesas do lado de dentro. A comida é preparada ali, no mesmo cômodo decorado com carinho. Na placa, além do Brás vegetariano, leio o nome do restaurante: Coisas da Lena.

Lena é a dona e a cozinheira, que está preparando alguma coisa atrás do balcão. Há um fogão, uma estante de temperos, geladeira. É uma cozinha como se fosse na casa da gente.

“Fazem Brás vegano? Sem ovo?”, me respondem que sim, claro. Me sento aliviada.

O Brás vegano do Coisas da Lena

No lugar do bacalhau, vem grão de bico e especiarias, alheira vegana (uma espécie de linguiça portuguesa, neste caso de legumes), arroz, amendoim e vegetais. A apresentação é o capricho final. Lena gosta de surpreender os clientes com a montagem dos pratos – algo que eu viria a confirmar todas as outras vezes em que voltei para almoçar.

Faz um ano deste dia em que conheci a Lena. Desde lá, o Coisas da Lena, muito mais que um restaurante, se tornou um refúgio. Uma segunda casa com comidinha familiar, carinhosa e atenta. Ela, a dona, se tornou o sorriso mais acolhedor que conheci em Coimbra, a cidade onde por enquanto solto a minha âncora.

Ela é do mundo

Helena Fernanda Fernandes Gomes, a Lena, não nasceu em terras lusitanas. Ela é filha do vai-vem colonial. Nascida em Luanda, na Angola, veio com os pais para Portugal aos cinco anos de idade. Se considera meio de lá meio de cá. Ou melhor: ela se considera do mundo.

“Eu sou do mundo, não me considero de um sítio só. Quando vou a uma localidade qualquer passar férias, eu digo: se calhar adaptava-me a viver aqui.”

Nesse espírito universal, a comida tem um lugar de destaque, claro. Ela gosta de provar de tudo. Qualquer comida vira referência para suas criações que, aliás, nunca seguem bem o roteiro do cardápio: e isso é uma delícia. Além de o Coisas da Lena ser uma referência de culinária democrática, com vários pratos tradicionais e opções sem glúten, vegetarianas e veganas, o pequeno restaurante na Baixa de Coimbra também tem como marca a invenção.

“Para mim, a cozinha é uma forma de relaxar. Dá-me a liberdade de poder criar, de fazer coisas diferentes. Eu nunca sigo uma receita.”

A cozinheira-artista é o resultado de uma família criativa por todos os lados. Com o pai, dono de restaurante, aprendeu a cozinhar. Com o avô, um médico de bonecas, aprendeu a brincar. A fazer de qualquer trabalho uma forma de arte. O Hospital das Bonecas que o avô mantinha em Coimbra rendeu à Lena algumas das memórias mais bonitas da infância.

“Meu avô era um grande inventor, sim, um autêntico inventor. Um homem que não tinha grande escolaridade, tinha apenas a segunda classe. Mas inventava e fazia coisas como ninguém”, diz Lena.

Depois de anos no ramo do vestuário e do artesanato, há sete anos decidiu abrir uma casa de chás e bolos. Mas o sucesso da casa obrigou o cardápio a crescer: hoje são sopas, lanches, pratos, sobremesas e, claro, os bolos. O carro-chefe: a torta de bolacha. Não há nada igual, eu asseguro.

No coração português bate um Brasil

Sim, ela é do mundo. Mas não é que os brasileiros que vivem em Coimbra roubaram a Lena um pouquinho pro Brasil? Sim. A gente fez isso. Ela confessa: um dos maiores sonhos é conhecer nosso país. E já sabe até onde quer descer.

“São Salvador da Bahia. É o meu sonho. Foi logo um dos primeiros meninos brasileiros que vinham cá inicialmente, ele era de lá e mostrava-me os vídeos. Aquilo era lindíssimo! Tinha umas cachoeiras, tudo muito lindo, aquilo apaixonava-me completamente.”

O amor pelo Brasil foi uma consequência do amor que ela tem pelos brasileiros. Nós somos uma boa parte da clientela da Lena e isso não é só por causa da comida deliciosa. É por causa do sorriso enorme, da conversa franca e do calor tão precioso pra quem vive longe da família. Os brasileiros amam a Lena.

Tanto que na pandemia fizeram várias vaquinhas e campanhas para ajudar o restaurante. Ela diz que o Coisas da Lena sobreviveu por causa dos clientes-amigos brasileiros. Mas acho que o certo é dizer que sobreviveu por causa do amor inesgotável que ela oferece a tudo que faz e a todos que conhece.

Mãe de dois filhos e à espera de um netinho, Lena já se considera a segunda mãe de muita gente. Principalmente de Letícia e Larissa, as funcionárias brasileiras que ajudam na existência do Coisas da Lena .

O restaurante é mais do que um restaurante. É casa. Lugar de encontro no meio do caminho histórico. É a pausa para um café ou um vinho tinto. É a realização da vida de uma cozinheira-artista.

“Se um escritor escreve um livro e ninguém o lê, que interessa-vos escrever milhares de livros? E se uma cantora canta e ninguém escuta a canção? Por isso para mim o mais importante é quando as pessoas dão valor àquilo que as outros fazem.”

O cardápio da cozinheira-artista reflete o aconchego do restaurante, onde muitos se sentem em casa

“Faço uma coisa que eu gosto. Quando a pessoa faz com brio, eu acredito que alguém, no meio de tanta gente, vai reconhecer. Alguém que reconheça aquilo que a gente faz, não só monetariamente, mas pelo valor em si. Eu tenho aqui muitos clientes que através das próprias palavras engrandecem-me loucamente. Não só porque me vão pagar aquele serviço que acabei de prestar, mas porque admiraram o que fiz. E essa é a parte mais válida de qualquer trabalho.”

Por Amanda Santo

Tags: artistacoimbracozinheiragastronomiaportugalrestaurante

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