“Todo o ser precisa de tempo para amadurecer, e só é pleno na maturidade”. Sabendo da demanda que existe por carne de animais jovens, nunca imaginei ouvir essa frase de alguém que lida com carne bovina, mas não só ouvi, como me surpreendi com a visão de Antônio Ricardo Sechis, idealizador do conceito Beef Passion. A empresa, que nasceu com o propósito de fazer a melhor carne do Brasil, prioriza o bem-estar animal. Isso, aliado ao controle absoluto desde a importação do sêmen dos animais até a entrega da carne na casa de seus clientes, resulta em um produto final de qualidade premium, certificado com selo de sustentabilidade pela Rainforest Alliance, que atesta a excelência socioambiental em todo o sistema de produção.
O pai de Ricardo, Amadeu Secches, possuía uma propriedade rural em Nhandeara, no estado de São Paulo, próximo ao abatedouro municipal. Foi ali que Ricardo cresceu e teve contato com todo o processo de abate de animais. Aos 15 anos, quando estava no segundo grau, começou a trabalhar no açougue de seu irmão Noriel Secches, e durante os três anos e meio que ali esteve, adquiriu suas referências de genética animal e tratamento da carne. Mesmo formado em Engenharia Elétrica, ficou com a “cultura da carne impregnada em suas fibras”, fala, simbolicamente.
Conversar com Ricardo é entender a relação entre respeito, cuidado, morte e alimentação. Seu ponto de vista em valorizar uma vida que vai ser tirada para alimentar outras fez ainda mais sentido depois que leu o livro ‘A morte é um dia que vale a pena viver’, da médica Ana Cláudia Quintana Arantes, onde é apresentada a ideia de que só tem medo da morte quem teve uma vida sem sentido. Por isso, os animais da Beef Passion escutam música, interagem com outros animais, são alimentados com dieta balanceada definida por estudos científicos, bebem água mais oxigenada e cristalina, e têm um contato constante com humanos, que respeitam seus sentidos e instintos.
O Brasil é um dos maiores exportadores de carne do mundo, e somente no primeiro trimestre de 2020 já abateu mais de 7 milhões de animais para atender as demandas externa e interna, segundo dados da Pesquisa Trimestral do Abate de Animais, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Alguns países importadores da carne brasileira preferem os novilhos precoces, aqueles entre 15 e 24 meses, pois acreditam que a carne de um animal mais novo é de melhor qualidade. Entretanto, Ricardo sabe que não é somente a idade que interfere no aspecto qualitativo da carne, mas também a raça e o modo como o boi é tratado em vida.
A Beef Passion trabalha com raças bovinas superiores como Angus, Nelore e Wagyu (gado japonês) Kuroge, além de estar testando a Akaushi, que tem um índice nutricional melhor. Segundo Ricardo, uma carne de qualidade tem que ser macia e possuir uma melhor composição de ácidos graxos na fibra, e que essas características ele também consegue em bovinos mais velhos, que muitas vezes apresentam um sabor melhor do que os precoces por serem mais elaborativos, ou seja, ruminarem por mais tempo. É no momento da ruminação que o animal faz sua digestão, processando e transformando em carne o que comeu. O abate da empresa não é feito antes dos 24 meses, e algumas vezes pode chegar aos 44 meses, dependendo da mistura de raças e do próprio animal.
A Beef Passion segue 13 premissas na estadia e ‘graduação’ dos animais no ‘spa’ bovino da empresa, visando o bem-estar do rebanho e a qualidade final da carne. Dentre essas premissas está o manejo Nada nas Mãos, criado pelo médico veterinário Paulo Loureiro. A técnica resgata a relação de confiança entre humanos e bovinos, fazendo os animais trabalharem voluntariamente para o manejador por não se sentirem ameaçados pelo uso de acessórios de manejo como tocos de madeira e bandeiras. Além dessa proposição, o silêncio deve ser respeitado para que o animal rumine tranquilamente, em um ambiente sombreado e com temperatura agradável.
Pesquisas desenvolvidas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), que é uma unidade da Universidade de São Paulo (USP), mostraram que a carne da empresa possui boa composição de minerais e ácidos graxos insaturados, o que faz da Beef Passion a melhor qualidade nutricional entre as carnes brasileiras. Entre os elementos benéficos estão o dobro de zinco, o principal mineral para a prevenção da deformação da próstata, e quatro a oito vezes mais selênio, um importante antioxidante e anticoagulante. Ademais, fazem estudos na Universidade Estadual Paulista (UNESP), em São José do Rio Preto, e na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) visando melhorar o perfil de gorduras e ômegas do produto. O objetivo de tanta análise é alcançar o status de carne nutracêutica, aquela que nutre ao mesmo tempo que faz o papel de remédio.
Desde 2009, quando a Beef Passion iniciou suas atividades, Ricardo vem lapidando o processo de graduação dos animais para que tenham uma boa vida e resultem em alimento nutritivo, saboroso, e de qualidade indiscutível. A carne já era um componente da alimentação diária há 2 milhões de anos, na época do Homo erectus. Hoje, ao ser difundida globalmente como parte da dieta dos humanos, a vida do animal a ser abatido é tão importante quanto a sua morte, e é isso que Ricardo e todos os que trabalham na Beef Passion aprenderam a enxergar. “Meu pai dizia que o boi é animal sagrado”, comenta ele, e por isso seja em Mato Grosso do Sul, onde é feita a cria e a recria da empresa, ou em São Paulo, onde é realizada a engorda, o animal é zelado com todo o cuidado.
Para nós, consumidores de carne, o aprendizado vindo de quem produz o nosso alimento é a melhor forma de sabermos que aquilo que colocamos na boca deve ter muito mais do que um sabor bom. Nossa comida deve fazer parte de uma cadeia sustentável que respeita o meio ambiente e os seres vivos que perdem suas vidas para nos nutrir. Portanto, eu pergunto: você sabe de onde vem o seu ‘Beef’?