Sabe aquele restaurante coreano que abriu na esquina da sua casa e que tem sempre fila de espera? Pode ser que ele faça parte do plano ‘Diplomacia Kimchi’ da Coreia do Sul, cuja campanha chamada ‘Cozinha Coreana para o Mundo’ foi lançada com o objetivo de divulgar a gastronomia do país no exterior. A campanha, de 2009, contou com um investimento do governo coreano de 77 milhões de dólares.
Ficou surpreso? Pois saiba que isso não é novidade no mundo da diplomacia e, aparentemente, o tema tem até nome: GASTRO-DIPLOMACIA, um termo usado pela primeira vez em 2002 em um artigo da revista inglesa The Economist. Na época, a reportagem trazia os esforços que a Tailândia vinha fazendo para aumentar o número de restaurantes de comida tailandesa no mundo para facilitar a venda de produtos nacionais e, consequentemente, atrair mais turistas.
Uma estratégia que deu certo. Com investimento de bancos, diversos ministérios do governo tailandês, da própria indústria de alimentos e do Instituto Nacional de Comida da Tailândia (National Food Institute of Thailand), o país sul asiático viu o número de restaurantes de comida típica passar de 5.500 em 2002 para 15 mil em 2014. Os governantes tailandeses consideram que a cada restaurante aberto, abre também uma embaixada não-oficial, trazendo novas oportunidades de interações culturais. Paul Rockower, especialista em Diplomacia Pública, já dizia que a gastro-diplomacia é o “ato de ganhar corações e mentes pelos estômagos”.
Bem, por mais que o assunto seja ainda novo no Brasil, lá se vão mais de 20 anos dessa forma de diplomacia pública, que leva em consideração a cultura gastronômica de um destino, podendo ser uma excelente ferramenta para atrair turistas e aumentar o volume de vendas de produtos locais.
Mas os benefícios podem ir além. Quando uma nação resolve remodelar ou mesmo criar uma nova percepção de si mesma através da sua cozinha, ela tem a possibilidade de fortalecer o sentido de identidade local entre seus próprios cidadãos e mobilizar essas pessoas para também se tornarem embaixadoras do seu país (e da sua gastronomia). Isso tudo de forma natural, afinal, comida geralmente é ligada à memória afetiva, e a conexão acontece automaticamente.
Entre as muitas ações realizadas pelos países que colocaram a gastro-diplomacia em prática estão a realização de festivais internacionais de comida, a promoção de aulas de cozinha em escolas internacionais de gastronomia, auxílio com bolsas a estudantes de culinária, além do apoio na abertura de restaurantes no exterior, como fez Taiwan.
O país asiático focou na ‘Diplomacia Dim Sum’, que é como são chamados aqueles rolinhos de arroz típicos da culinária do país. Nesse caso, mais uma vez, o governo na figura do Ministério das Relações Exteriores investiu 34,2 milhões de dólares para auxiliar na abertura de novos restaurantes de comida taiwanesa dentro e fora do território, além de apoiar a participação de chefs em competições internacionais.
Um modelo um pouco diferente e mais tardio veio da Austrália. Em 2013, por meio do programa ‘Restaurante Austrália’, o Ministério do Turismo criou uma campanha para chamar a atenção para uma gama de produtos australianos servidos mundo afora em restaurantes e lugares lindíssimos. Denominada ‘Não existe nada como a Austrália’, a campanha teve um impacto econômico significativo, aumentando em 24,6% o gasto com comidas e vinhos australianos. Atualmente, 1 em cada 5 dólares australianos gastos por turistas estrangeiros é usado na compra de vinho e comida. Mais uma prova de como a gastro-diplomacia pode ser uma boa opção para impulsionar o mercado turístico e de alimentos.
A gastro-diplomacia tem se mostrado ao longo dos anos um instrumento de sucesso para diversos países ao redor do globo, e por mais que estejamos falando de nações e investimentos milionários, a estratégia pode também ser replicada em menor escala para estados, cidades e até pequenos municípios, afinal, a comida é um elemento cultural que carrega em si a identidade de um destino, o que a torna uma embaixadora verdadeiramente eficiente.
Fonte: Levantine Public Diplomacy
Por Leyla Spada