A cerveja é, sem sombra de dúvida, uma paixão mundial. Em qualquer país que você vá, vai encontrar cerveja para tomar. ‘Trincando’ ou em temperatura ambiente, dependendo de como é preferida na cultura local, essa bebida alcoólica à base de cereais faz parte da alimentação humana há mais de 10 mil anos, de acordo com pesquisas realizadas pelo arqueólogo Patrick McGovern. Sua evolução foi tornando-a melhor ao longo dos anos, e nos dias de hoje não temos somente cervejas mais aromáticas e saborosas, mas também mais variadas, com mais de 120 estilos e sub-estilos.
A Professora, Sommelièr e Mestre em Estilos de Cerveja Fernanda Bressiani conta que não se sabe ao certo onde a cerveja surgiu, mas acredita-se que tenha acontecido em vários lugares diferentes ao mesmo tempo. “Há indícios de resquícios de leveduras encontradas em cerâmicas na China, África, Mesopotâmia, Egito, entre outros lugares, e a bebida era inicialmente consumida como alimento”, explica ela. Hoje, entretanto, ela é ingerida por lazer e, somente em 2018, o consumo mundial foi de 188,79 milhões de quilolitros, o equivalente a aproximadamente 298,2 bilhões de garrafas de 633ml, segundo dados da Kirin Beer University (Universidade Cerveja Kirin).
O surgimento da agricultura
Antes do surgimento da agricultura, o homem caçava e coletava para se alimentar. Até pouco tempo, a crença era que a agricultura tinha tido início com o plantio de cultivos para a produção de pão, mas novos estudos têm mostrado que a lavoura da cevada foi iniciada para produzir cerveja, a qual era já utilizada por agricultores para se sentirem ‘alterados’.
A jornalista científica sueca Karin Bojs em seu livro Min Europeiska Familj (Minha Família Europeia) relata que arqueólogos alemães acharam, na parte leste da atual Turquia, recipientes com enzimas que seriam restos da fabricação de cerveja, e que naquele local ocorriam cultos nos quais a cerveja fazia parte das celebrações. Ela não acredita que “comer purê fosse um impulso suficientemente importante para começar uma nova cultura e um novo estilo de vida”, portanto, a cerveja teria sido o elemento propulsor do surgimento da agricultura.
A cerveja de ontem e de hoje
A cerveja sempre teve como base algum tipo de cereal, e isso é mantido como padrão até os dias atuais. O Professor e Doutor Carlo Bressiani, diretor geral da Escola Superior de Cerveja e Malte em Blumenau, Santa Catarina, argumenta que antigamente a bebida não tinha carbonatação, e possuía baixo teor alcoólico porque as leveduras selvagens utilizadas eram reaproveitadas, o que provocava baixa eficiência de fermentação. Além do mais, continua Carlo, “o líquido era turvo, já que não existiam processos para clarificá-lo. Hoje, temos cervejas mais limpas, carbonatadas, elaboradas com muito mais controle na produção”.
Como escolher a cerveja que se adapta a seu paladar?
A escolha da cerveja ideal para cada paladar é um processo individual de experimentação. A entrada no mundo da cerveja é geralmente feita com uma de ‘massa’ dos grandes fabricantes, as ‘Light Lagers’, que são mais suaves. Na sequência, o primeiro passo é experimentar uma de trigo, que é um pouco mais forte, e ir definindo a escolha de acordo com o paladar.
“Quem prefere as mais alcoólicas, deve partir para as de escola belga como uma Ale, por exemplo. Os que gostam de um sabor mais torrado, na maioria dos casos vai para uma Porter ou Stout. A IPA é a favorita dos que gostam de cervejas mais amargas, enquanto as Wheat Beers são mais refrescantes”, aconselha Carlo.
As cervejas brasileiras tradicionais produzidas em grande escala têm como objetivo o consumo em massa, o que as faz cervejas comerciais. Algumas empresas que produzem esse tipo de cerveja também possuem linhas de cervejas especiais, com intensidade semelhante ou quase igual às artesanais, que são caracterizadas por possuírem mais aroma, sabor e textura.
A cerveja do futuro
Juntamente com o surgimento das cervejas artesanais, apareceram diferentes estilos de cervejas. O termo ‘estilo de cerveja’ é ligado à tipologia da bebida, e tem tido uma evolução histórica. As cervejas artesanais são focadas na qualidade do sabor e na tradição, e seus estilos foram criados em períodos diferentes, cada um desenvolvido de forma específica. O que isso quer dizer é que estilos como Pilsner, IPA ou Lambic, por exemplo, têm uma história em particular.
O escritor de cerveja italiano Mirco Marconi, autor da trilogia Birra (Cerveja) juntamente com Tullio Zangrando, relata que o preparo artesanal durante os anos 80 começou seguindo estilos e receitas originais até iniciar a personalização e, mais tarde, chegou ao cruzamento de estilos, sendo finalmente inventados novos como New England IPA (NEIPA), Hazy IPA e Session IPA, de acordo com a tendência do ano, padronizando os brews.
Mirco diz que “existem fortes críticas a essa padronização guiada pelas tendências e que, pelo menos na Itália, que tem sido um ditador de tendências ultimamente, está surgindo um novo interesse entre os cervejeiros artesanais pelos estilos tradicionais, preparados de maneira pura”. Portanto, Pilsner, Bock, Bitter, Real e Original IPA podem voltar a ser as cervejas do futuro. “Talvez em um tempo distante, quem sabe?”, questiona a si mesmo.