O Vale do São Francisco é uma região vínica marcada pela inospicidade. É exatamente no ambiente hostil do bioma Caatinga que os vinhedos dão vida a extensos oásis verdes. Os baixos índices pluviométricos neste recanto do semiárido brasileiro tornam-se o grande atrativo para o cultivo de videiras com o propósito de elaborar soberbos vinhos.
As chuvas são sempre bem vindas, tanto que, quando elas ocorrem, as igrejas se abarrotam para agradecer São José. O período chuvoso historicamente é nos primeiros meses do ano, e sempre inferior a 500 ml. Se chove tão pouco, é natural que o Vale do ‘Velho Chico’, a região mais árida do semiárido brasileiro, tenha muito sol. São mais de 3.100 horas de luz solar anualmente ofertadas em dias longos e quentes de curto crepúsculo.
A proximidade com a linha do Equador, de apenas 8º a 9º de latitude sul, torna as noites longas. O clima semidesértico seco da região presenteia o período noturno com temperaturas amenas, propiciando amplitude térmica acima de 15°C diariamente. Esta condição climática ímpar outorga o amadurecimento pleno da casca e da polpa das uvas, fatores preponderantes na qualidade dos vinhos.
E tão importante, o perene verão do Vale do São Francisco apresenta uma verdadeira enciclopédia de enologia, pois oferece, lado a lado, o ciclo completo de uma videira, desde a brotação até colheitas célebres, todos os dias do ano, viabilizando duas safras anuais.
E bastante relevante, seus vinhedos não sofrem com as adversidades das intempéries. As cepas cultivadas no Vale do São Francisco jamais conheceram a causticidade de tempestades de vento ou de chuva de granizo e, tampouco, a desalentadora geada tardia nos períodos de brotação e floração ou, ainda, da geada precoce nos frutos já maduros em véspera de colheita.
Esta circunstância climática única em relação a qualquer região vínica do mundo faz jorrar anualmente mais de dez milhões de garrafas de vinhos finos tranquilos, espumantes e destilados. São vinhos estampados com mais de duzentos rótulos, e entre estes, dezenas deles premiados em renomados concursos no Brasil e no mundo, ratificando a qualidade dos vinhos deste rincão brasileiro. São vinhos evoluídos, muito diferentes daqueles rudimentares servidos a granel que outrora descortinaram a região, ainda, em 1964.
Esta condição natural do Vale do São Francisco engrossa a película da uva e amplia o desenvolvimento de diferentes polifenóis, entre estes, o resveratrol e outros compostos fenólicos tão importantes para a saúde humana. Os vinhos tintos do sertão estão cientificamente comprovados que são sete vezes mais ricos em resveratrol que qualquer outro vinho tinto, oriundos das mais afamadas regiões vínicas do mundo.
Esta rusticidade quase desértica da região só é revertida em pujantes vinhas por graças do exuberante e caudaloso ‘Velho Chico’, o rio São Francisco. Sua farta oferta de água, aliada às mais modernas tecnologias de irrigação, transforma o solo quente e caatingueiro em fonte de verdadeiras pérolas que são apreciadas em sofisticadas taças nos quatro cantos do Brasil e do mundo.