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O vinho nasce aqui

Segunda reportagem da série 'Os vinhos e as emoções'

janeiro 22, 2025
em Gastronomia

Por baixo da ondulação das colinas do Cáucaso, mais abaixo dos vinhedos, embaixo das pedras e das argilas vermelhas: é ali, no subterrâneo, que está acontecendo uma gestação. Nove meses de maturação. Fermentação de matéria orgânica dentro da mãe Terra. Quem está do lado de fora, a família, espera entoando cantos antigos. O culto se repete todos os anos, há milhares de anos, sempre que um vinho novo está para nascer.

Não, isso que você leu não é uma ficção. Não é uma fábula. É uma descrição fiel da produção de vinhos na Geórgia, país conhecido como o lugar dos vinhos ancestrais. Lá a técnica de produção da bebida remonta a 8 mil anos antes de Cristo e em 2025, acredite, ainda é feita da mesmíssima forma:

A ânfora onde é colocado o vinho para maturar é enterrada em buracos já abertos na terra. E assim permanece por exatos nove meses, por isso a analogia com a gestação de um bebê. É que na Geórgia o vinho é mais do que um vinho: ele representa a essência da própria vida. Também nasce de um ventre.

É assim desde os primórdios em Kakheti, primeira região vinícola conhecida no mundo. No leste da Geórgia, país da fronteira entre Europa e Ásia, os vinhedos encontram condições ideais para se desenvolver: verões secos, invernos frescos e um povo apaixonado por tudo que vem da uva.

A pesquisadora Anne Tess foi conhecer de perto a produção milenar de vinho na Geórgia

Ir até lá, ver de perto o berço do vinho, era mais do que um passo importante na carreira de Anne Tess. Era um sonho. Doutoranda na Universidade de Coimbra, ela está concluindo uma tese sobre a relação do vinho com as nossas emoções, pesquisa que mostramos na primeira reportagem desta série.

Hoje vamos contar sobre a fase mais especial desse estudo: a visita ao lugar onde uma produção milenar ainda respira.

Viagem à Geórgia

“Lá eu aprendi muito. Na verdade eu nem sei se a palavra seria aprender, porque a gente desaprende muita coisa. É um resgate. Eu resgatei um modo ancestral de fazer vinhos.” – Anne Tess, pesquisadora

Chegando na Geórgia, centenas de entrevistas foram feitas. Anne conheceu algumas das vinícolas mais antigas do país, como a Shumi, onde foi possível participar do processo de produção do vinho e ainda se deliciar com um jantar tradicional regado à vinho em meio às vinhas.

No jantar com degustação de 8 vinhos da Shumi

A pesquisadora descobriu que no maravilhoso mundo do vinho georgiano todos têm a mesma importância no processo: produtores, garrafeiros, os artesãos das ânforas. Todos se conhecem, um afeto ligado pelo vinho: “Eles tomam um vinho e dizem: esse vinho é dessa região, deve ser essa pessoa que fez porque tem essa e essa característica”.

Cada família se especializa numa parte do mercado, seja cuidar dos vinhedos ou produzir utensílios – mas a verdade é que em Kakheti quase todo mundo faz vinho no quintal de casa, nem que seja para consumo próprio. A tradição está enraizada como um tecido que une a todos e exala pelo ar um cheiro único de… camaradagem.

Talvez seja isso que dá ao vinho georgiano um sabor inigualável. Talvez seja a bagagem de 8 mil anos. Talvez a mentalidade contra-hegemônica. Difícil dar uma única resposta. De forma prática, podemos dizer que o vinho se diferencia pela técnica chamada qvevri (algo que se pronuncia mais ou menos como “queuri”, trocando V por U). É a qvevri que determina o nascimento que contei no início da reportagem, com ânforas enterradas como ventres gigantes.

“Até o processo de fabricar uma ânfora é lindo, é totalmente intuitivo. É um tratamento biológico que passa de pai para filho, de geração para geração. Nenhuma ânfora é igual à outra. Eles trabalham muito com as mãos, com as temperaturas, com as sensações. É um processo de sentir.” – Anne Tess, que visitou o Museu do Vinho e pôde ver de perto a ânfora mais antiga do mundo: de 8 mil anos antes de Cristo.

A ânfora mais antiga do mundo: 8 mil anos antes de Cristo

Sabor como nenhum outro

Imagine um líquido espesso cor alaranjada ou dourada. Turvo, não translúcido. Assim é o vinho branco georgiano chamado de ouro líquido. Sem ingredientes industriais, cada garrafa tem um aspecto. Não há estabilidade, não há padrão. Há personalidade de sobra e uma experiência que jamais se esquece – a Anne garante!

“Na primeira degustação que fiz de um vinho georgiano meu cérebro deu um bug porque não entendeu o que estava ali. Por quê? Porque a gente não está acostumado a certos sabores. Um vinho branco da Geórgia, por exemplo, vai fazer seu cérebro trabalhar muito mais do que os vinhos industriais.”

O vinho branco da Geórgia é cor âmbar: o “ouro líquido”

Aroma de tâmaras, pêra e compota de frutas. Sabor de frutos secos. Uma adstringência que começa logo no início, assim que o vinho entra na boca. Já o vinho tinto é um veludo redondo e escuro, encorpado como nenhum outro. Cor rubi, denso e profundo, é como uma compota de frutos negros. Uma amora líquida.

Vinhos com uma complexidade de sensações a que nos desacostumamos. Ou melhor, a que a indústria nos desacostumou. Sulfitos, químicos, pesticidas, aditivos: tudo isso foi domesticando nosso paladar para um produto mais simples. Mais distante das raízes da bebida. Para os georgianos, a complexidade é fator indissociável do vinho e da vida. Assim como o amor.

O povo georgiano

“O povo georgiano é muito emocional. A gente diz que o brasileiro é emotivo, mas nunca senti tanto acolhimento e tanta emoção quanto senti lá. É um povo festivo! Eles colocam música na hora que a gente vai pisar nas vinhas, nas uvas. Faz parte do cotidiano deles trazer a emoção para a produção do vinho e tentar fazer com que você se sinta feliz.” – Anne Tess

Um povo que respira e respeita a uva. Que não quer apenas vender vinho. Quer transmitir conhecimento ancestral a quem chega de qualquer lugar do mundo. O que eles querem, mais do que fazer dinheiro, é conquistar admiradores e amigos. Anne conta que assim que chegou nas primeiras vinícolas, ela e a amiga que foi junto na viagem foram recebidas como se fossem da família. Na mesa havia vinhos e um verdadeiro banquete. E, claro, muito tempo para conversar.

Tempo é um valor na terra do vinho. O tempo de espera, da maturação. O tempo de produzir, de cantar para as ânforas, de contar histórias de antes de Cristo. Tempo de sentar e degustar. Na Geórgia, a pressa é inimiga da produção. Uma lógica totalmente invertida em relação aos valores capitalistas de outros mercados do mundo.

“No ocidente, o vinho é feito para ter lucro. Lá na Geórgia não, o produtor pensa no prazer dele, se vender e o outro gostar, perfeito, se não tá tudo bem também. Eu nunca saí de um lugar com tanta garrafa de vinho de presente.”

A viagem também apresentou surpresas como esta: um vinho produzido por mulheres durante a lua cheia

“Eles olham no teu olho e dedicam tempo. Não importa se você pagou, você vai ter o mesmo tempo. E é isso que eu quero mostrar na minha pesquisa. Eu trabalho as emoções como um antecedente da experiência, mas também como um pós-experiência. As memórias daquele momento, onde elas estão? Aqui. A Geórgia definitivamente veio embora comigo.”


Por Amanda Santo

Tags: ancestralidadeânforascáucasogeórgiaKakhetiprodução de vinhotécnica qvevrivinhovinho ancestralvinho georgiano

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