Você teria coragem de largar uma carreira de anos que dá a você um retorno financeiro muito bom para se dedicar a algo totalmente sem garantia de sucesso, mas que faz muito sentido para você e seus objetivos de vida? Pois Renata Acácia, atualmente especialista em chá, teve essa coragem e, desde que largou o emprego no ramo de comércio exterior, assumiu seu novo propósito: propagar a cultura do chá brasileiro. E é o que faz por meio da Infusorina, criada em 2014. Mais do que uma empresa, a Infusorina foi o primeiro filho de Renata e, seis anos depois, já construiu uma cadeia que une produtores e consumidor final, em uma aliança de prazer, bem estar e informação.
Não é por não ser famoso por sua produção de chá, que o Brasil não tenha produtos de excelência premiados em concursos internacionais. A cultura de beber chá no Brasil não pode ser comparada com a do café, afinal, as plantações de café existem há muito mais tempo por aqui. O Brasil é considerado o maior produtor de café do mundo, e o mesmo é exportado para centenas de países, tornando o café brasileiro um dos símbolos do país.
Chás brasileiros
Em paralelo à tradição cafeeira brasileira, produtores como Amaya Chás, Sítio Shimada e Sítio Yamamaru, todos descendentes de imigrantes japoneses no Vale do Ribeira, estado de São Paulo, produzem chás utilizando métodos de cultivo e processamento de seus antepassados, em uma mistura de herança e inovação. Eles cultivam a planta Camellia sinensis, a única que dá origem ao verdadeiro chá, e processam as folhas para obterem chás brancos, verdes, oolong e pretos, encontrados na loja virtual da Infusorina. Além desses, a Renata passou a criar seus próprios blends (chás mistos), os quais são muito apreciados por seus clientes. O Hippie Chai, por exemplo, hoje carro-chefe dela, é feito à base de Pu Erh, que é um chá escuro ou pós-fermentado, gengibre, cardamomo e goji berry.
Por mais que o chá ganhe cada vez mais adeptos no mercado nacional e que tenhamos produtores excepcionais que produzem chás no mesmo nível de qualidade de estrangeiros, o brasileiro, em sua maioria, ainda vê o chá como remédio, e o consome, mais comumente, para fins medicinais. Para mudar essa perspectiva, Renata investe na oferta de conteúdo educativo para levar a cultura do chá até as pessoas, e apresenta a elas esse mundo que ela tanto respeita.
Rota do Chá
Desde que fez o primeiro curso de chá, na Escola de Chá Embahú, São Bento do Sapucaí, SP, na qual hoje é consultora, nunca mais se afastou de Yuri Hayashi, proprietária da escola, por quem Renata tem uma grande admiração pelo profissionalismo e qualidade de trabalho. Em 2016, Yuri conversou com Renata sobre a vontade de montar uma rota do chá para levar seus alunos para conhecerem os chazais brasileiros. A primeira edição teve 30 participantes, e a Infusorina entrou como apoiadora. O resultado foi tão positivo e as pessoas ficaram tão encantadas com aquela realidade que não imaginavam encontrar em terras brasileiras, que as edições seguintes foram ganhando força e, atualmente, a Rota do Chá, agora organizada por Renata com o apoio da escola, é muito mais do que uma viagem para conhecer a produção do chá brasileiro, mas uma oportunidade de troca de experiência, já que os participantes vão desde profissionais da área até amantes do chá. No ano passado, inclusive, estiveram presentes cidadãos de outros países da América do Sul. A rota deste ano, a quinta, está marcada para os dias 13, 14 e 15 de novembro e, mesmo com as vagas esgotadas, há uma lista de espera em caso de desistência.
Entre as atividades da Rota do Chá, os participantes conhecem as famílias produtoras, visitam os chazais, participam de cerimônia de agradecimento pela safra do ano, além de assistirem workshops, degustarem os chás de cada local visitado, e plantarem um pé de chá que recebe o nome de quem o plantou. “Essa aproximação entre o produtor e o consumidor reforça a missão da Infusorina em querer que o chá brasileiro faça história e deixe marcas nas vidas das pessoas”, explica Renata.
Alguns anos antes, quando ainda era aluna do curso de sommelièr de chá em Buenos Aires, e tinha como trabalho final preparar um chá preto para degustação, Renata foi em busca de chá preto 100% brasileiro. Ao chegar, acompanhada por seu avô, na Amaya Chás em Registro, SP, ver um chazal pela primeira vez e conhecer a história das pessoas por trás daqueles chás, percebeu que estava seguindo uma estrada que não teria mais volta. “O Milton Amaya (da Amaya Chás) me levou para conhecer o Sítio Shimada, pois eles tinham acabado de retomar o cultivo e iniciado a própria produção. Me lembro da Dona Ume (faz referência à Umeko Shimada, matriarca no Sítio Shimada) dizendo ‘enquanto houver chá, haverá esperança’. Fui para o banheiro chorar e saí decidida que iria levar o chá brasileiro para o Brasil inteiro”, conta ela.
Infusorina
Renata tem muitos planos para a Infusorina e está sempre em busca de conhecimento, pois acredita que o chá tenha ainda muito a ensinar para ela. O investimento constante para oferecer workshops presenciais e conteúdo educativo, como o Curso Básico do Mundo dos Chás, que vai ser lançado virtualmente no dia 23 deste mês, prova que ela segue uma premissa: “tudo o que criamos é para o mundo”, explica. Esse curso surgiu como uma forma de agradecimento a todos os clientes e seguidores de suas mídias, e que, ao mesmo tempo, possibilita a Renata de estar em várias cidades ao mesmo tempo, o que não vinha conseguindo mais fazer.
E assim ela caminha para formar uma ‘família’ que fale a língua dela e abrace o chá como um propulsor de bem estar, o que já acontece em sua própria casa. Seu filho Caetano, de 3 anos, o terceiro na linha depois da Infusorina e da cadelinha Duna, que chegaram antes à vida de Renata, algumas vezes a surpreende fazendo perguntas relativas a chá: “É o oolong da Amaya, mamãe?”, repete ela com um sorriso de realização por estar vendo suas sementes darem fruto.