Quando Inge e Arnildo Stein compraram um terreno na área rural de Porto Belo (SC), em 1996, encontraram uma área cercada de nascentes, mas tomada por pastagens e vegetação secundária. Antes de qualquer coisa, eles deixaram a floresta nativa se regenerar. E foi graças a esta decisão que, vinte anos depois, o Sítio Paraíso Bio-Orgânico virou um refúgio de Mata Atlântica que cultiva produtos sem aditivos químicos e com o selo de certificação orgânica.
O sítio parou de usar agrotóxicos e adubos sintéticos em 2010, mas conseguiu a certificação orgânica somente em 2016. Neta do casal, Stephanie Machado Stein se formou em Ciência e Tecnologia e, aos 26 anos, passou a se dedicar ao sítio da família. Ela conta que a propriedade mudou para o sistema orgânico por iniciativa do seu pai, Carlos. “No começo, o baque foi grande, pois nem sabíamos como proceder e o que fazer para substituir o que era aplicado, mas tivemos bastante ajuda e apoio dos órgãos públicos, além de muito estudo. Sabíamos que o processo era lento e que no futuro isso traria recompensas inimagináveis, principalmente para a natureza e para a saúde de todos”.
Em 2013, o sítio foi autorizado a vender suas uvas grano d’oro como orgânicas, mas ainda sem o selo de certificação. Para obtê-lo, seria preciso contratar uma auditoria e pagar cerca de R$ 3 mil por ano. A opção mais viável, no entanto, foi buscar a cooperação de outros agricultores em um Sistema Participativo de Garantia (SPG). Em resumo: para reduzir o custo, um produtor fiscaliza o outro.
O que é o Sistema Participativo de Garantia?
A certificação pelo sistema participativo custa aproximadamente três vezes menos que as empresas de auditoria. Funciona assim: os produtores de uma determinada região se associam em grupos e procuram um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (Opac) cadastrado no Ministério da Agricultura. As Opacs cuidam da emissão dos certificados e da parte burocrática, e os responsáveis pela fiscalização da conformidade orgânica são os próprios agricultores, que formam comissões de verificação para visitar e avaliar as propriedades integrantes de cada grupo.
Stephanie conheceu o sistema participativo de certificação orgânica em 2016, por indicação de uma amiga que trabalhava na Associação de Agricultura Biodinâmica do Sul (ABDSul), uma Opac sediada em Florianópolis.
“Nessa época a gente nem entendia direito o que era a certificação participativa, mas fomos de cabeça, pois não tínhamos nada a perder, só acrescentar. Foi uma decisão muito linda, além de um empurrãozinho para continuarmos trabalhando aqui com um objetivo maior”.
O Sítio Paraíso passou a fazer parte do Grupo Litoral, que reúne agricultores de toda a região. “Somos de Porto Belo, mas o nosso grupo possui na maioria membros de Florianópolis, sendo metade produtores agrícolas e a outra metade processadores de alimentos. O que torna o grupo bem diversificado, permitindo o intercâmbio de aprendizados de diferentes áreas”.
Para aderir ao sistema participativo de certificação orgânica, o produtor deve entrar em contato com uma Opac, que tentará enquadrá-lo em algum grupo de agricultores já existente, que pode ou não aprovar a entrada do novo membro. “Dependendo da demanda e da quantidade de pessoas no grupo, pode-se abrir novos grupos em uma mesma região”, explica Stephanie.
Vantagens da certificação participativa
Além do custo mais baixo, outra vantagem do sistema participativo é a troca de experiências entre os agricultores. A fiscalização pode ser até mais criteriosa que a das auditorias contratadas, até porque as normas da Opac podem ser até mais rígidas que as da legislação. “Como temos a responsabilidade compartilhada, se um membro do grupo não cumpre com as normas, todo o grupo é prejudicado e, inclusive, a Opac. Se um de nós falha, todos falham, mas ao mesmo tempo todos se ajudam, e nas vitórias também estamos juntos. É o compartilhar e a comunidade que se cria que torna tudo tão especial”.
Quem também ganha é o consumidor, que passa a ter acesso a mais produtos orgânicos certificados, e a um preço menor. O intercâmbio de ideias entre os agricultores também favorece o crescimento dessa oferta. Atualmente, o Sítio Paraíso trabalha com os princípios da agricultura biodinâmica e conta com produção regular de mandioca, uva, banana e cítricos. “Eu e meu companheiro estamos colocando a mão na terra para tirar o nosso sustento daqui também, vendendo parte da produção para os feirantes locais e ensacando lenha de eucalipto da propriedade”.
“Já temos muitos projetos para o futuro e pouco a pouco vamos construindo os degraus que nos levam até lá. A ideia é fazer do sítio não somente o nosso sustento, mas sim o nosso estilo de vida, mais tranquilo e conectado com a natureza”, encerra Stephanie.