Nosso amado e idolatrado Guia Alimentar para a População Brasileira vai completar uma década em novembro desse ano. Elaborado pelo Ministério da Saúde em parceira com a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e a Universidade de São Paulo (USP), ainda é o documento máximo que temos no Brasil para entender nossa alimentação e buscar com segurança uma vida mais saudável.
O Guia é nosso xodó! Não só porque aborda a alimentação de forma revolucionária, trazendo o hábito, a realidade socioeconômica e a cultura brasileira para o centro da mesa, como também porque inverte totalmente conceitos antigos e ultrapassados sobre o que é comer bem. Mesmo que, pra isso, precise comprar algumas brigas com a indústria alimentícia. Não é à toa que o Guia Brasileiro é referência mundial.
Vem entender por quê:
Imagine um prato saudável. Como você montaria? Pensaria só nos nutrientes? Contaria as calorias? Se a resposta é sim e sim, talvez você esteja seguindo um tipo de nutricionismo bastante usado pela “indústria fit” para vender produtos tão sedutores quanto nocivos.
Ok, vamos com calma: não estou dizendo que nutrientes não importam. Carboidrato, proteína, vitaminas e minerais, tudo isso é importante. Mas está bem longe de ser a prioridade na busca por mais saúde. Afinal, carboidrato e proteína podem estar presentes até num produto ultraprocessado, tipo hambúrguer industrializado. Há nutrientes, sim, mas harmonizados com uma longa lista de aromatizantes e substâncias químicas que nem conseguimos pronunciar.
Então vamos combinar: olhar só a quantidade de nutrientes não faz tanto sentido, não é verdade?
“Alimentação é mais que ingestão de nutrientes: Alimentação diz respeito à ingestão de nutrientes, mas também aos alimentos que contêm e fornecem os nutrientes, a como alimentos são combinados entre si e preparados, a características do modo de comer e às dimensões culturais e sociais das práticas alimentares. Todos esses aspectos influenciam a saúde e o bem-estar.”- Guia Alimentar para a População Brasileira.
A questão central para se observar está naquela palavrona que temos usado tantas vezes aqui no Comida com História: os ultraprocessados. Eles são a maior ameaça à alimentação de todo dia, pois são mais baratos, atrativos e já são relacionados a doenças cardiovasculares e outras complicações.
Por isso, a primeira regra das recomendações mundiais de saúde é indiscutível: observar o quão natural é a comida que está no seu prato. Ela é in natura ou foi processada? E processada em que nível? Por exemplo, consumir uma espiga de milho (in natura) não é o mesmo que consumir milho em lata (processado), que também não é o mesmo que consumir um salgadinho de milho (ultraprocessado). Quanto mais processado o alimento for, mais longe de sua forma original – e, consequente, mais longe de todos os seus benefícios.
E esse é o fio que norteia todo o Guia Alimentar para a População Brasileira, do início ao fim. Criado como base para promover políticas públicas relacionadas à alimentação e à saúde das famílias brasileiras, o Guia é um livro de mais de 150 páginas que nos ensina a comer bem para viver mais. O foco é descomplicar a alimentação popularizando o acesso à informação segura.
O livro traz recomendações de como escolher a melhor refeição, privilegiando sempre alimentos in natura ou minimamente processados, como montar um prato completo em diferentes horários do dia, do café da manhã até a janta, e de que forma fazer da culinária popular um hábito saudável e, mais do que isso, prazeroso.
Não bastasse ser aclamado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como modelo de política pública, o Guia Alimentar para a População Brasileira também teve suas diretrizes comprovadas em um artigo publicado na revista Appetite, que investigou se as dicas do Guia Brasileiro levam mesmo a uma nutrição de qualidade. E a resposta é sim.
O Guia está disponível na internet gratuitamente, e pode ser baixado para distribuição livre, para ler em família, amigos, escolas e até em unidades de saúde e associações, onde agentes públicos ou comunitários podem fazer o papel de multiplicadores, levando compreensão do Guia para pessoas que tenham dificuldade ou não saibam ler.
Os dez mandamentos:
Logo no comecinho, o Guia explica a sua existência como um grande manifesto pela sustentabilidade – e isso quer dizer ser bom pro meio ambiente e para as pessoas também. “Alimentação adequada e saudável deriva de sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável”- GAPB.
A função do Guia é valorizar as culturas regionais, os alimentos mais baratos e promover a autonomia das pessoas na hora de escolher o que comer. Fizemos um resumo do que seriam “os dez mandamentos do Guia”, para te ajudar a começar agora mesmo na busca a uma alimentação mais saudável, prazerosa e acessível.
- Faça de alimentos in natura ou minimamente processados a base de sua alimentação.
- Utilize óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias.
- Limite o uso de alimentos processados, consumindo-os, em pequenas quantidades, como ingredientes de preparações culinárias ou como parte de refeições baseadas em alimentos in natura ou minimamente processados.
- Evite alimentos ultraprocessados.
- Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia.
- Fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados.
- Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias.
- Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece.
- Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora.
- Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais.
E lembre-se: o ato de cozinhar e de comer bem também é revolucionário.
Baixe o Guia gratuitamente neste link.