Logo Comida com História
  • Gastronomia
  • Saúde
  • Sociedade
  • Sustentabilidade
  • Turismo
  • Educação
  • Revista
  • Sobre nós
Sem Resultado
Veja todos resultados
  • Entrar
  • Registrar
  • Gastronomia
  • Saúde
  • Sociedade
  • Sustentabilidade
  • Turismo
  • Educação
  • Revista
  • Sobre nós
Sem Resultado
Veja todos resultados
Logo Comida com História
Sem Resultado
Veja todos resultados

Cozinha patrimonial da Bahia para todos

Leila Carreiro no Dona Mariquita, que há 14 anos serve a cozinha patrimonial da Bahia

junho 4, 2020
em Turismo

Entrar no restaurante Dona Mariquita é voltar a um tempo que quase não existe mais na Bahia. Rendas de bilro e rendas rechileud, arte em barro, balaios, parede de barro como as das casas de pau a pique e imagens do Candomblé complementam a cozinha patrimonial da Bahia de Leila Carreiro, uma cozinheira baiana apaixonada pelo seu estado, que serve comida típica baiana, “aquela acessível a todos”, como ela mesma descreve.

O Dona Mariquita está localizado no bairro Rio Vermelho, Salvador, não por acaso. No mesmo bairro ficava o Mercado do Peixe da capital baiana, o qual, no imaginário coletivo dos habitantes da cidade, era onde se comia comida de feira. Como Leila tinha a intenção de servir esse tipo de comida, foi ali que sentiu-se confortável para fazer o que sabia: cozinhar comida simples.

Em 2006, ao abrir o restaurante, a cozinheira já servia pratos com receitas e ingredientes originais de influência indígena, africana e sertaneja, no entanto, ao receber a visita do escritor Guilherme Radel, hoje falecido, se identificou com sua obra ‘A Cozinha Africana da Bahia’, o que a fez ir em busca de mais conhecimento em livros antigos que abordam a cozinha africana na Bahia.

“As informações iam se encaixando com o como fazer, como servir”, explica Leila, que sabe que seu trabalho vai construindo a história e a antropologia das receitas que ela serve no restaurante. O latipá, feito com a folha da mostarda, e o efó, com a folha de taioba ou língua de vaca, por exemplo, são pratos raros de serem servidos pelos chefs e cozinheiros dos restaurantes baianos, mas são mantidos no cardápio do Dona Mariquita, sempre com a preocupação do uso das folhas corretas. Ambos os pratos são do Candomblé, religião afro-brasileira, e possuem um orixá que se relaciona com eles.

A Bahia representada em cada detalhe da decoração do Dona Mariquita.
Detalhes no restaurante Dona Mariquita, localizado no Rio Vermelho, em Salvador

Leila não é iniciada no Candomblé, mas tem uma relação forte com a religião, possuindo uma mãe de santo que a protege, além de fazer oferendas a seu orixá. Na Bahia, e em especial Salvador, o Catolicismo convive bem com o Candomblé, e os praticantes dessas duas religiões aceitam os costumes deixados pelos africanos muçulmanos que chegaram durante o período da escravidão. “Aqui muita coisa se mistura, pega-se de uma cultura e mistura-se com outra”, relata ela, tentando mostrar o quanto é rico seu território, e como isso influencia a riqueza gastronômica baiana.

“Sou uma apaixonada pela Bahia. Quando alguém fala em Bahia antiga, eu choro, parece que vivi no século 19. Eu sofro pela dor que foi a escravidão, sofro com o preconceito e o racismo como se os tivesse vivenciado”, fala emocionada. Leila Carreiro acredita ter sido escolhida como representante dessa Bahia antiga que tanto se identifica, e que seu trabalho como cozinheira e pesquisadora da cozinha afro-baiana seja uma missão divina.

Durante a entrevista, que foi uma deliciosa conversa de mais de duas horas, ela contou muitas histórias sobre clientes idosos que vão a seu restaurante e choram ao comer o que é servido. “Isso é coisa da minha infância!”, repete a frase que ouve com frequência. Uma das histórias contadas por Leila, foi durante um dos meses que servia o tabuleiro de mingaus, tão difícil de ser encontrado. As baianas do acarajé, símbolo da Bahia e patrimônio cultural imaterial brasileiro, reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), também possuem a sua versão branca, ou seja, enquanto que no tabuleiro de acarajé servem-se comidas com azeite de dendê, no tabuleiro branco são servidos mingau, bolinho de estudante, acaçá, que são as comidas fufun, sem o uso do dendê.

O acaçá de leite era iguaria vendida nos tabuleiros noturnos e vinha com um pregão.
O acaçá de leite é comida votiva do orixá Oxalá

A cada três meses o Dona Mariquita monta o tabuleiro branco, e durante uma dessas vezes, já com fila formada do lado de fora duas horas antes de iniciar a servir, entraram duas mulheres, mãe e filha. A mãe, de muletas, ao perceber que havia lelê, iguaria africana feita com quirela de milho vermelho, coco ralado, açúcar e leite de coco, ficou comovida. Sua filha contou à Leila que ela nunca saía de casa devido à dificuldade em se locomover, mas quando soube que haveria tabuleiro branco, pediu para ser levada até o restaurante. “O meu trabalho move as pessoas”, fala Leila, explicando que seus clientes vão ao local porque conhecem a receita e o sabor que ela serve.

Leila Carreiro continua estudando e pesquisando livros antigos, mas quando se depara com a nova gastronomia e as substituições de ingredientes, preocupa-se com a descaracterização da imagem de um prato histórico, e defende a importância de colocar a referência ao que essa nova versão se refere, para que as pessoas não pensem que o novo é o original.

A apresentação dos pratos é outro ponto forte da cozinha patrimonial da Bahia de Leila Carreiro.
A moqueca de feijão, carro-chefe no recôncavo baiano, é servida no Dona Mariquita

Com o sonho de que o Dona Mariquita se torne um centro cultural, onde a comida se mistura à arte da Bahia, com espaço para leitura e história, assim como para a capoeira, Leila afirma que seu restaurante possui um ambiente especial, com energia, onde causos acontecem, e deseja que nele o baiano encontre orgulho de seu passado. “A história da Bahia é de muito sofrimento, chibatadas. As pessoas daqui têm vergonha e não querem ser relacionadas com isso”, analisa.

O que vejo e me encanta na Leila é que ela chama o Dona Mariquita de casa, e é na sua casa que ela serve a história da Bahia em forma de comida, de afeto. Seu amor pelo o que a cozinha representa vai muito além da busca pelo resgate histórico, mas reforça a oportunidade que ela dá ao povo baiano de valorizar sua cultura, uma das mais ricas do Brasil, quiçá do mundo.

Tags: comida baianacomida funfuncozinha afro-baianacozinha patrimonial da Bahiadona mariquitasalvador

Reportagens Recentes

Artistas revelam como a pobreza afeta a alimentação no Brasil e no mundo

Artistas revelam como a pobreza afeta a alimentação no Brasil e no mundo

maio 16, 2025
Bebida como nenhuma outra

Bebida como nenhuma outra

maio 7, 2025
Revolução Verde: o nascimento da agricultura convencional

Revolução Verde: o nascimento da agricultura convencional

maio 3, 2025
A comida típica da colônia

A comida típica da colônia

abril 25, 2025
Chocolate: menos cacau, mais preço

Chocolate: menos cacau, mais preço

abril 19, 2025
Um sonho de vinho nas asas de um pássaro

Um sonho de vinho nas asas de um pássaro

abril 9, 2025
comida-com-historia-logo-whited-t1

Navegue pelo nosso site

  • Vídeos
  • Textos
  • Podcast
  • Revista
  • Apoiadores
  • Sobre nós
  • Guias Gastronômicos

Assine nossa newsletter

Receba as novidades do Comida com História no seu e-mail!

Copyright © 2023 Comida com História – CNPJ: 11.856.573/0001-38 | Implementado por Plat.Co

Políticas de Privacidade | Termos e Condições de Uso

Bem-vindo, novamente!

Acesse sua conta

Esqueceu sua senha? Assine

Crie uma nova conta!

Preencha o formulário para cadastrar-se

Necessário preencher todos os campos. Entrar

Retrieve your password

Insira seu e-mail ou nome de usuário para criar nova senha.

Entrar

Add New Playlist

  • Entrar
  • Assine
  • Carrinho
  • Gastronomia
  • Saúde
  • Sociedade
  • Sustentabilidade
  • Turismo
  • Educação
  • Revista
  • Sobre nós

Copyright © 2023 Comida com História. Implementado por Plat.Co

Tem certeza que deseja desbloquear esta reportagem?
Unlock left : 0
Tem certeza que quer cancelar sua inscrição
-
00:00
00:00

Queue

Update Required Flash plugin
-
00:00
00:00
Nós utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continua a usar este site, assumimos que você está satisfeito.Ok