Um pedaço de terra e a vontade de torná-lo sustentável. Foram esses dois elementos que fizeram com que o engenheiro agrônomo Jester Raulino Ferreira de Macedo iniciasse, em 2012, o plantio de oliveiras em Rancho Queimado, Santa Catarina, que deram origem ao primeiro azeite de oliva produzido e envasado no estado catarinense, o Vienzo.
A história do azeite de oliva no Brasil é recente, com pouco menos de 20 anos, quando as primeiras árvores foram plantadas em Minas Gerais. A falta de tradição no cultivo e produção de azeite de oliva no país devem-se ao fato de a oliveira ser nativa da parte oriental do Mar Mediterrâneo, mas também porque Portugal proibiu o plantio de oliveiras em território brasileiro durante o período colonial para incentivar as exportações de azeite português.
O Brasil é o segundo maior importador de azeite de oliva do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo o Conselho Oleícola Internacional (COI). Portugal e Espanha são os países que mais exportam para cá, seguidos da Argentina. Entretanto, a produção de azeite de oliva vem crescendo no Brasil e, em 2017, a ExpoAzeite, evento que ocorre anualmente desde 2009, teve, pela primeira vez, a participação de mais produtores nacionais do que importadores.
Ao contrário do vinho, que fica melhor com o envelhecimento, o azeite de oliva possui mais qualidade com o frescor, e essa é a grande vantagem de consumir um produto nacional. Os produtos europeus chegam ao Brasil no mínimo seis meses após o seu processamento, enquanto o azeite brasileiro alcança o consumidor com 40 dias, na média. “Além do frescor por não passar por uma longa viagem em um container, a chance de fraude é menor”, explica Jester. As fraudes nos azeites de oliva são caracterizadas pela mistura de óleos vegetais como o de soja, por exemplo, com o óleo extraído da azeitona, fruto da oliveira, e único ingrediente que compõe o puro e verdadeiro azeite de oliva.
Os azeites Vienzo são inteiramente processados por Jester e sua esposa Patrícia Sousa Silveira de Macedo, que mantêm o controle total desde o plantio até o envase e rotulagem. Atualmente, eles confeccionam dois azeites monovarietais, o arbequina, de origem espanhola, e o koroneiki, de origem grega, e dois blends, um mais frutado e outro mais intenso. “Queremos ter o controle de todo o processo mesmo quando atingirmos a meta de produzir 12 mil garrafas anuais. A ideia não é produção em alta escala, mas qualidade”, salienta Jester.
Patrícia relata que o produto ganhou notoriedade devido à excelente qualidade, e que logo que é finalizado o envase e o azeite está pronto para ser vendido, suas garrafas terminam rapidamente. “Já aconteceu de pessoas entrarem em contato para adquirir o azeite e ficarem desapontadas por não termos mais. Até sugeriram a compra de azeitonas de outros estados para aumentar a produção, o que não é o nosso propósito”, esclarece ela.
A ideia do casal em concentrar todas as etapas de plantio e processamento neles possibilita o domínio ainda maior de algumas fases essenciais para um azeite final de excelência. A colheita, que se dá durante os meses de fevereiro e março, verão no Brasil, é feita assim que o sol nasce, para evitar o aquecimento da azeitona, o que pode interferir na qualidade do azeite. A rapidez entre a colheita e a extração do óleo a frio, como deve ser com todos os azeites de oliva extravirgens, deixa o produto com ainda mais complexidade, elemento buscado por cada vez mais produtores e consumidores.
Jester conta que o consumidor brasileiro está evoluindo o paladar por ter mais acesso a produtos melhores, o que ajuda a explicar o interesse crescente por visitas à Quinta do Vienzo, onde o azeite Vienzo é produzido. Durante a safra, os visitantes podem participar da colheita e ver o processamento das azeitonas e, fora dela, fazem apenas parte da atividade, que inclui visita à propriedade, explicação sobre o mundo do azeite, análise sensorial e degustação. As visitas, que devem ser agendadas, são uma forma encontrada pelo casal para agregar ainda mais valor à sua pequena produção, que tem uma ligação forte com a serra catarinense, e visa valorizar o terroir da região. “As pessoas vão embora dizendo que agora sabem o que é azeite”, finaliza Patrícia.